UTI neonatal do HR completa cinco anos com pequenos "milagres" 31/03/2016 - 16:20
Joaquim nasceu prematuramente, na 31ª semana de gestação, por conta de má-formação na placenta de sua mãe, Daiane, que comprometeu a gravidez e seu crescimento. "Em uma consulta normal de pré-natal, meu médico viu que já estava afetando a circulação do bebê, então na mesma noite fui transferida para o Hospital São Francisco", lembra Daiane, de Santo Antônio do Sudoeste.
Era 21 de março. A cesariana aconteceu num sábado, dia 26. Joaquim nasceu com apenas 1,1 kg e demandava cuidados além dos suscitados na prematuridade, pois teve uma infecção generalizada dos órgãos devido a uma bactéria multirresistente (interocolite necrosante) que perfurou seu intestino, agravando ainda o quadro de desnutrição.
No dia 7 de abril, pesando 990 gramas, o menino deu entrada na recém-inaugurada UTI neonatal do Hospital Regional do Sudoeste, unidade especializada em casos de alto risco. "Ele precisava ser operado e só o regional tinha médica pra isso. Ele deu entrada às 11h15 e já marcaram a cirurgia para as 15h30. Mas a doutora Mary Ângela Sabadin foi bem clara me informando que ele tinha apenas 4% de chance de sair com vida do centro cirúrgico", lembra a mãe, detalhista.
Com 12 dias de vida, Joaquim passou por uma colostomia que lhe retirou 30 centímetros de intestino e ainda desenvolveu a chamada síndrome do intestino curto. "Ele demorou muito para ganhar peso e quando chegou a 1,980 kg ganhou alta, pois já estávamos esgotados e com o psicológico abalado demais", conta Daiane.
Após dois meses na UTI, Joaquim ficou só 28 dias em casa e, em julho, precisou voltar ao tratamento intensivo em função de uma desnutrição grave. Com a infecção descontrolada, o garoto de três meses de vivenciou "um milagre", como define Daiane.
"No dia 27 de julho, todos os órgãos ficaram 24 horas sem funcionar; os rins e o pulmão não trabalhavam mais sozinhos e ele teve três paradas cardíacas. Chegou a pesar quase 6 kg por causa do inchaço. Foi então que a doutora pegou nas minhas mãos e, por cima da incubadora, falou: 'Daiane, desculpa, mas fizemos tudo o que a medicina permite fazer, mas dessa vez perdemos o Joaquim'. Me desesperei, achei que ia perder ele, mas, ao mesmo tempo, como vi que ele estava sofrendo demais, não quis ser egoísta e disse pra Deus que, se era pra ele sofrer, por mais que eu quisesse ficar com ele, era pra Ele levar."
Ao lado de Daiane, Mauro segura o filho Joaquim no colo. Hoje, o menino que passou sete meses na UTI neonatal do HRS faz 5 anos de idade.
Aniversário de 5 anos
Daiane não foi atendida em seu pedido. Contra qualquer prognóstico, Joaquim começou a reagir à medicação e fez 120 ml de xixi em um dia, mostrando que os rins não haviam parado. "'Daiane, esse menino tem algo muito bom para fazer na terra, pois ele conseguiu mais uma vez', foi o que a doutora me disse na porta da UTI quando voltei para ver ele", relata.
Completando 5 anos hoje, Joaquim é seis dias mais velho que a UTI neonatal do Hospital Regional do Sudoeste, local onde ele passou boa parte do primeiro ano de vida. Inaugurada em 1º de abril de 2011 com 10 leitos, a unidade já atendeu mais de 850 crianças com 90% dos casos resultando em desfecho favorável, ou seja, alta do paciente.
A principal característica da UTI é o atendimento multidisciplinar e humanizado. A equipe é formada por oito médicos, cinco enfermeiros, 32 técnicos em enfermagem, quatro fisioterapeutas, três psicólogos, um fonoaudiólogo, assistente social, entre outros serviços. A unidade não tem horário de visita e aos pais é permitida a presença 24 horas por dia para acompanhar os bebês.
"Essa humanização, ter a presença dos pais e familiares mais próximos, é a linha atual desse tipo de serviço. A presença deles é importante para a recuperação dos bebês, para criar vínculos, principalmente relacionados à amamentação. Os índices de sucesso de amamentação são maiores nas mães que ficam presentes, por isso a gente tem um alojamento conjunto para essas mães no período em que o bebê está internado, organizamos encontros semanais para trocas de experiências", explica Marielle Calliari Monteiro, neonatologista e uma entre os responsáveis técnicos pela UTI.
A média de internamento da unidade é de 21 dias, porém, como no caso do Joaquim, não são raros os bebês que permanecem no hospital por meses até recuperar o deficit de peso e desenvolvimento da prematuridade. E como o HRS atende aos 27 municípios da 8ª Regional de Saúde, a distância de casa também se torna um agravante.
"A convivência da equipe com essas mães é muito intensa. Todas as mães, quando estão grávidas, imaginam que vão ter um bebê saudável e que vão pra casa depois de 48 horas. Quando isso não acontece, causa estresse, medo, afastamento da família. A grande parte dos nossos pacientes é de outros municípios, às vezes têm outros filhos em casa, e o que a gente tenta fazer é acolher essas mães", afirma Marielle.
Em alguns casos, como o da família Moresco, vira até amizade, celebrada na festinha de aniversário de Joaquim em Santo Antônio do Sudoeste. "Eles [equipe médica] são minha segunda família. Tenho um carinho muito grande por todos que convivi durante um ano e que cuidaram de mim e do Joaquim. Das tias da cozinha até a equipe médica, todos são muito especiais pra mim, pra minha família", diz Daiane.
Parte da equipe da UTI Neonatal do Hospital Regional de Francisco Beltrão que completa cinco anos comemorando alguns "milagres". O "time" acima é Marli, Amarilda, Gladis, Marielle, Regeane, Ricardo, Tanilúcia, Elisandrea, Sabrina, Janaína e Jorge.
Foto: Tiafo Moreira/JdeB